quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O fim de um destino?

Estimados amigos,

Hoje não vos escreverei um imparcial ensaio sobre a Sensação das Sensações, a saber, o glorioso TRITÓRIA. Portanto, se você está esperando por linhas abalizadas na razão, esqueça. Nada de "olhar crítico" sobre COR 2x0 VIT - nem tampouco SPT 2x0 VIT, no último domingo. Aliás, estes jogos não têm a menor importância frente ao assombro que toma conta de meu coração. Pela primeira vez, grafarei com todo o meu sentimento. Dane-se um dos meus mais arraigados princípios: o da imparcialidade.

Entendo o poder das palavras. Pois bem. Fui vítima delas neste domingo, quando as páginas sujas de um jornal local estamparam em sua manchete: "NOVA FONTE NOVA TIRARÁ JOGOS DE PITUAÇU E BARRADÃO". Incrédulo, agarrei o vespertino e despedacei-o até encontrar o caderno de esportes. Outra vez, estampado: "DIRETRIZ DO GOVERNO EXIGE QUE O BAHIA JOGUE NO NOVO ESTÁDIO DA FONTE NOVA... E QUE O VITÓRIA DEIXE DE JOGAR NO SEU (PÁG. 7)". Alucinação das alucinações!! Rasguei três folhas antes de alcançar a página sete, e pela terceira vez eu li: "DOCUMENTO PREVÊ QUE (...) O VITÓRIA JOGUE PELO MENOS 28 PARTIDAS POR ANO NO NOVO ESTÁDIO".

Amigos, não sei o que pensar. Confusão das confusões se instaurou em meu coração.

Comecei a acompanhar futebol nas arquibancadas da velha Fonte Nova, no início de 1992. Ainda não havia Barradão para mim, a sua mais completa tradução. Até que, em 1995, adentrei pela primeira vez ao Monumental. Naqueles dias, a Leões da Fiel era a principal torcida e a decida das bandeiras atrás do gol da concentração era um show à parte. Eu estava ali, atrás do gol, e vi o zagueiro Vanderci, de cabeça, marcar o gol do título em minha estréia no Manoel Barradas: VITÓRIA campeão baiano por antecipação aplicando um a zero no galícia. Apesar da estréia com pé-direito, eu ainda o punha em dúvida quando o assunto era "um grande jogo" - e aqui, sem dúvida, estão incluídos os BAVIs. Eu morava pertinho da Fonte Nova, acordava cedo quando era aberta a venda dos ingressos para passar a manhã inteira numa serpenteante e quilométrica fila, com o objetivo de garantir meu no clássico. No Barradão não dava pra ir sempre. No Barradão não dava pra sair de casa e, em poucos minutos, estar na fila serpenteante. No Barradão não cabiam as regulares 90 mil pessoas que, em média, assistiam ao embate.

Com as limitações próprias da adolecência, eu dizia que "a Fonte Nova não era do bahia, tratava-se de um campo neutro, então todos os BAVIs deviam acontecer lá". Meia verdade das meias verdades! De fato, a Fonte Nova não era do bahia; de fato, tratava-se de um campo neutro. Mas este era exatamente o diferencial do Barradão: pertencia ao VITÓRIA e não era campo neutro. Isto desequilibrou o clássico ao longo de muitos anos, e o Barradão foi o palco onde o Leão se sentiu realmente em casa, transformando-se em objeto de estudo em livro que o entitula de "o maior atacante do VITÓRIA de todos os tempos".

Eu entendi isto, e enfim me rendi ao Barradas. Vencer naquele que é, hoje, o Maior do Estado, era o nosso destino aguardado por cem anos.

Mas eis que chega a Copa do Mundo da FIFA, e carrega o destino pra lá. À beira do Dique do Tororó será erguido um estádio com a modernidade da Copa do Futuro e, ditadura das ditaduras, a torcida do TRITÓRIA está sendo convidada pela força do Estado a volver à Ladeira da Fonte das Pedras. Um passo adentro do futuro com uma sensação esquisita de deja vú.

O presidente Alexi Portela manifestou ser pessoalmente contra a imposição, entretanto disse que isto, como tudo, será decidido pelo Conselho Deliberativo, após a obrigação ganhar caráter oficial. Comentou, também, que mantém contato com pessoal da Lusoarenas para tratar da nova Arena do VITÓRIA (pelo que estou entendendo deste tema, será no mesmo local do Maior do Estado). Alexi fez questão de lembrar que acabou de ser assinado pela Prefeitura um termo de desapropriação para construção de uma via expressa da Paralela direto para o estádio rubro-negro, e que, portanto, não consegue vislumbrar o fim do Barradão.

Estou engasgado com isto tudo, pasmado e com uma saudade antecipada, atento ao possível pendurar de chuteiras do "maior atacante do VITÓRIA de todos os tempos" - atacante este que, diga-se de passagem, garantiu nossa classificação às quartas-de-final da Copa Sulamericana, marcando seus dois gols no primeiro jogo contra o coritiba. Grito, então, para que ele ouça e não perca o ânimo:

BORA MAIOR DO ESTADO!!!!!

PS.: Fico devendo uma imparcial ensaio sobre a classificação às quartas da Sudamericana, aguardem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário